8.2.07

and help me be good tomorrow

Morri de inveja da minha mãe. Ela foi selecionada pra ser jurada. Durante um mês por ano, uma vez por semana, ela tem que comparecer pra julgamento. Eles selecionam 7 dos 14 jurados, sorteando, e os advogados podem aceitar ou recusar o jurado. Tipo filme mesmo. Nos três primeiros julgamentos eu não fui porque tava viajando. No último, consegui ir. E ai meu santo graal.
Chegando lá, uma gentarada na porta. Fiquei achando que seria julgamento de, sei lá, da Suzane. Fiquei torcendo e me xingando por não ter celular que bate foto. Mas nem era, a gentarada toda tava lá pra outra coisa, a salinha do julgamento (que eu esqueci o nome técnico) tava vazia.
Durante o sorteio dos jurados, ninguém pode ficar na salinha. Ficamos esperando lá fora. Sentou uma mulher do lado, com jeito de 'vou puxar papo'. Fechei meus olhos. Ela achou que eu tava tentando dormir, mas na verdade tava mentalizando 'sai daqui, não puxa papo, quando eu abrir meus olhos você terá sumido!'. E não é que adiantou?
O caso. Um cara, com 8 processos, tava cumprindo pena de 11 anos por tráfico (já tava no nono ano) quando foi acusado de matar um colega de cadeia. O que aconteceu: o horário de visita tinha acabado, os 120 presos tavam 'soltos' no quinto andar do pavilhão. O carcereiro ouviu uma movimentação estranha e foi ver. Chegando no terceiro andar, ele viu o réu arrastando o tal do cara, num lençol, escada abaixo. Na hora o réu assumiu a culpa. Assumiu também em outros dois depoimentos. Mas no julgamento que eu vi, ele mudou a versão porque 'virou evangélico'.
Na primeira versão, ele teria lutado com o cara, que caiu pra trás, bateu a cabeça e 'começou a ficar azul'. Detalhe que a autópsia diz que ele morreu por asfixia. Na segunda versão, que ele apresentou nesse dia que eu fui, falou que tinham mandado ele levar o corpo pro carcereiro. Se ele não levasse, morreria.
O promotor perguntou se o réu tinha cometido alguma falta grave nos nove anos de prisão. Ele negou. O promotor, com toda a calma do mundo, contou que o réu fugiu da prisão em 2002. Réu mentiu, pronto, pra mim é culpado.
O advogado de defesa era um ator ridículo e exagerado, tipo um Billy Flynn mesmo (e só deus sabe quanto eu odeio o Richard Gere e sua voz de hélio). O exagero era tão grande (gritos, berros, gestos, tudo) que comecei a achar o réu culpado. A única coisa remotamente pró-réu que ele provocou em mim foi quando contou sobre as facções. São duas, o PCC e a Seita Satânica. O PCC mata com facadas, a Seita Satânica mata por asfixia.
Foi bem complicado e muitas vezes eu fiquei em dúvida, mas acabei achando que ele era culpado. Ainda bem que eu não sou jurada nem advogada. Se fosse, seria conhecida como 'aquela amarga mal comida que quer se vingar da vida'. Porque fiquei pensando: se o cara assumiu a culpa pelo assassinato, será que ele não deve agüentar as conseqüências?
Saí do julgamento pensando mais sobre relacionamentos que sobre assassinato. Se você banca a culpa, tem que bancar o que vem depois. Qualquer semelhança...Era o que mais ecoava na minha cabeça, mesmo. Com a voz da Jenny, claro, porque não há nada mais Jenny que esse pensamento.
Enquanto isso, a Sierra cantava na minha cabeça, em volume bem menor, com acompanhamento de harpa: "não projeta, minha querida, aprenda a perdoar os outros e a si mesma, ame as crianças e os animais". Toda uma fanfarra na minha cabeça.
Enfim, culpado, 4 a 3. Sorri quando ouvi isso mas saí frustrada porque não sei se o júri fez a coisa certa.

3 comentários:

Anônimo disse...

seita satânica é novo pra mim. chocada.

Anônimo disse...

seita satânica é novo pra mim. chocada.

Anônimo disse...

seita satânica é novo pra mim. chocada.