27.1.07

hold your mistakes up before they turn the summer into dust

Eu nunca, jamais, em tempo algum tive habilidade pra lidar com separações e saudade. Quando eu era menor e voltava da praia, no fim do verão, sempre ficava com uma tremenda vontade de chorar pelo que eu tava deixando pra trás, pelo que eu tinha acabado de viver (todo verão era sempre o melhor verão ever), pelo que eu deixaria de viver ao voltar pra São Paulo. Ficava com os olhos cheios d'água e tentava fazer alguma amiga minha vir aqui pra minha casa em São Paulo pra tentar prolongar um pouco a despedida.
Mas claro que uma hora ou outra eu ficava sozinha lembrando do verão com saudade. E a saudade é isso, né. A gente tem saudade pra matar a saudade. Pra manter por perto o que já foi, o que não tá mais ali. É um jeito de fazer presente o passado. E, oh, como eu vivo do passado. Como boa histérica de conversão. Direitinho como o Freud mandou. Às vezes eu sinto tudo tão empilhado, tão bagunçado aqui dentro que me dá aflição. É como se eu não conseguisse processar nada do que já foi. Como se estivesse tudo conservadinho* num ambiente climatizado aqui dentro, como se as lembranças fossem aqueles charutos cubanos incríveis. Meu pai andando de bicicleta comigo. Todo mundo que eu bati quando era pequena. O patê de tomate da minha avó paterna. Minha primeira amiga na escola. O parquinho que me fez amar a escola nova. A primeira professora. O primeiro namoradinho, com riqueza de detalhes incríveis (eu lembro até hoje o que ele disse, em cima de um cogumelo gigante de brinquedo). As traições da adolescência. A primeira mix tape que eu fiz. Todos os tombos de patins. Todos. Os resultados dos jogos que eu joguei, o apoio que a gente se dava. A cor dos uniformes. As músicas dos verões. Os momentos nos quais eu via que aquela turma já não combinava comigo. Frases de Buffy. Os meus números nas chamadas no ginásio. O primeiro 'eu te amo'. A data exata dos encontros, a roupa que eu usava. O momento em que eu vi que tava finalmente, desesperadamente e permanentemente apaixonada e amando. A primeira pegação em carro. O primeiro 'eu te amo muito'. O último 'eu te amo muito'. Todas as palavras ouvidas no desespero. Todas as palavras faladas no desespero.
Isso de deixar o tempo passar que a gente acaba esquecendo é a maior besteira que eu já ouvi. O tempo não faz merda nenhuma. Ótimo responsabilizar o tempo, pedir pra ele resolver. Meu cu pro tempo. Eu não aceito essa explicação, não consigo deixar as coisas pro tal do "destino" dar conta, não consigo aceitar a falta de lógica de algumas coisas. Dizem que pra esquecer, a gente precisa terminar de lembrar. Eu tenho que terminar de lembrar e aceitar tudo isso.

...

É, eu sei, preciso voltar pra análise.


*mas segundo a pininquenta, eu consigo não ter rancor nem mágoa quando olho pra trás. tô feliz por isso, pelo menos.

Um comentário:

rodrigo lc disse...

e digamos q vc é a especialista em lembrar de lugares e situações associando a roupas, né?