7.8.06

i need a window or door

É engraçado como as coisas acontecem. Eu e a marinada* voltamos no bar que sempre íamos com algumas meninas da clínica, quando ainda estávamos em aula. Tipo a menina do batom. Eu não lembro se já falei dela aqui. Provavelmente não porque a época mais 'dream-come-true' (single edition) dos últimos tempos foi justo na época mais 'stop-the-world-i-wanna-die-listening-to-arcade-fire'. Muita coisa acontecendo ao mesmo tempo, muitos detalhes, muito além do que eu posso processar (o que é muito bem representado pelo show do Arcade Fire). Porque ultimamente eu tô assim. Precisando dar um upgrade no processador, tá muito difícil. Eu tenho tendência a parar e viajar em cada detalhe, em cada coisa bizarra ou interessante que acontece. Eu fico encantada mesmo. Mas quando os detalhes vêm em ondas, fica difícil demais. E tá vindo em onda desde outubro do ano passado.
Mas voltando. Na parte 'dream-come-true'. Três sonhos de consumo no período de um mês de solteirice.

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A menina do batom foi um deles. Ela fazia supervisão de família/casal comigo. Com certeza hetero, mas inteligente e curiosa. Sempre muito gentil, às vezes encarando como se estivesse tentando entender o que era um pontinho preto e vermelho no canto da sala (eu). Já me dando muito mais crédito do que eu merecia, até então, já que ela nem me conhecia. Ela olhava de um jeito que te fazia ficar constrangido. Eu não conseguia falar com ela olhando nos olhos, no começo. Como alguém que não me conhece pode me olhar assim? Ou eu tô com a lingerie por cima da roupa e ela acha isso muito cool? Como se já me sacasse, mas não conseguisse botar em palavras.
Saíamos em 5, 6, 7 pessoas. Vila Madalena, pro lado dos heteros. Mas rendeu muita coisa. Muitas conversas filosóficas, a cada taça de vinho todo mundo descobria mais sobre aquelas pessoas que, se num fosse pela faculdade, nunca estariam numa mesa de bar discutindo sobre amor e relacionamento (e dependendo da quantidade de álcool, vida sexual e fantasias sobre os supervisores).
Claro que eu não contribuí pra nenhum dos tópicos entre parênteses. Porque eu já sou quieta com estranhos. E eu também vou devagar com a minha bandeira do arco-íris. Com estranhos, eu acho melhor primeiro dar uma espiada pela fechadura do armário pra conferir se vai precisar sair dele com um cabide-de-ferro-transformado-em-foice. Se estiver tudo ok, você sai linda leve e solta. Se não estiver, não tem problema. O lado de dentro do armário deve ser mais bonitinho e interessante do que o lado de fora anyway. Acho estranho querer comentar a todo custo o quanto a garçonete é gostosa, não importando o ambiente.
Mas eu me perdi. Pera.
Ah sim. Eu ficava quieta, mas quando falava era ambígua (sem gaguejar nem yodar. Descobri que semi-bêbada eu não gaguejo nem yodo. O que é a desenvoltura alcoólica, não é mesmo, minha gente?).
Até o dia em que metade da mesa era gay (sendo que desses eu só conhecia a marinada*, que é café com leite). O papo engatou com ela (não com a marinada*, com a menina do batom. Eu mal falava com a marinada* nessas saídas, ela se entretinha com a amiga da menina do batom).
Todos ocupados com quem tava ao lado, nem ouvindo o que eu falava com ela. Quando eu vi, tava falando da minha família, ela perguntando cada vez mais. Falei que gostava de meninas. Ela contou que já ficou com uma menina e com um cara ao mesmo tempo, mas só uma vez. Caímos em Kundera, uma vez é nunca. Tem vontade de novo? Só se for com você.
E o batom da vó. Achei adorável alguém experimentar usar o batom da vó. Banheiro. Quer tirar o batom da vó?
Fora da sala de supervisão, só a vi mais 2 vezes, como se nada tivesse acontecido.

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Voltando ao começo do post. Eu, marinada*, na Vila Madalena hétera. Marinada reclamando do namoradinho, nhenhenhem. Olhei pra porta, já pedindo clemência e querendo que uma manada de elefantes brancos em alta velocidade na contramão entrasse no bar, quando alguém parecido com a menina entrou. Bem melhor que os elefantes brancos. Perguntei pra marinada* se eu tava vendo certo. Tava. Marinada*, que na época da faculdade tava superafim da menina, gritou pra ela sentar com a gente. Meia hora depois, chega a amiga dela. Muito bizarro porque quando tava combinando com a marinada* pelo telefone, ela cogitou chamar as meninas. Claro que eu não deixei chamar.
Sentou com a gente e a primeira coisa que falou foi que pensou muito em ligar pra gente e chamar pra ir pra lá.
Duas horas depois, marinada* como sempre surtou e foi embora (mas dessa vez não teve sorteio de cartas do Caminhão do Faustão com os meus documentos e casaco no meio da escada). Fiquei dependendo da carona da amiga da menina do batom.
Ainda não processei o que aconteceu. Me orgulho por ter ficado sóbria o suficiente pra vê-la semi-bêbada, mas me arrependo por não ter sido tão corajosa quanto da outra vez.
Pediu pra ligar. Não sei se vou ligar. Acho que vou jogar a minha vida ao vento. E ver no que dá.

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Backstory da menina do batom: mora com os avós, família do interior, tem namorado que, segundo a amiga, é tão obeso que eles não transam (essa última parte ela mesma confirmou). Ama o cara, mas não é apaixonada por ele. Tem um fuck buddy da clínica, conhecido meu, militar e claramente (talvez não pra ele) gay. Ela confirmou que se sente atraída por esse lado gay dele. Ditado preferido: o que os olhos não vêem, o coração não sente. Mas isso dá pra concluir a partir das informações que eu acabei de dar. Gosta de Siouxsie and the banshees, não tem orkut e é irmã do meio.
Fim.

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*todo mundo que lê aqui sabe quem é, fica esquisito não falar o nome, mas vamos fazer de conta que novas pessoas descobrem meu blog todo dia.

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